TÉCNICAS DE NECROPSIA DA CAVIDADE ORAL PARA IDENTIFICAÇÃO HUMANA
TÉCNICAS DE NECROPSIA DA CAVIDADE ORAL PARA IDENTIFICAÇÃO HUMANA
Em procedimentos de identificação, quando a Papiloscopia não pode ser aplicada (como em desastres em massa, carbonização, putrefações, e outros) a Odontologia Legal assume o protagonismo no processo de identificação humana. Juntamente com os ossos, os dentes possuem unicidade e alta resistência após transformações tanatológicas, tornando possível o confronto de suas características com dados odontológicos registrados em vida. O acesso à cavidade bucal e suas estruturas deve ser amplo e com boa visibilidade, o que pode demandar a remoção e ressecção especializada de mandíbula ou dissecção facial. O texto tem por objetivo abordar duas técnicas de enucleação dos arcos dentais - de Luntz e submandibular -, além de considerações acerca de suas vantagens e desvantagens.
Palavras-chave: dissecação, tanatoscopia, necropsia, identificação
A necropsia bucal permite o acesso detalhado dos arcos dentais para uma melhor descrição da estrutura estomatognática. A análise de características dentárias (como dentes cuneiformes, geminação, atrição), materiais odontológicos de restaurações, próteses e manifestações patológicas podem indicar uma possível vítima, com o auxílio de registros odontológicos para o confronto ante e post mortem. As técnicas preconizam incisões em regiões de face e pescoço, com a remoção ou não dos maxilares, selecionadas para serem utilizadas de acordo com a necessidade de preservação das estruturas faciais ou o estado de degradação dos corpos – decomposição, rigidez cadavérica, carbonização.
Técnica de Luntz - para carbonizados, cadáveres putrefeitos, desastres em massa:
Incisão em formato de “V”. São feitas duas incisões a partir das comissuras labiais: a superior, indo até o arco zigomático, expondo o côndilo mandibular (cavidade glenoide do osso temporal), e a inferior, atingindo o ângulo da mandíbula.
Remove-se os músculos da mastigação (principalmente o masseter) e os ligamentos inseridos, expondo a região.
Depois é feita uma incisão na borda inferior do osso mandibular, no assoalho bucal, dissecando a musculatura aderida. Por fim, remove-se a mandíbula da articulação temporomandibular.
A maxila é retirada com um corte horizontal com uma serra, iniciando pela espinha nasal até o processo pterigoide.
Essa técnica é aconselhada para melhor manuseio, observação e possibilidade de se fazer uma radiografia, caso necessário.
Técnica submandibular (ou da máscara):
A incisão é feita em formato de ferradura, na base até o ângulo da mandíbula, rebatendo os tecidos superiormente acima da região nasal, expondo os ossos maxilares e mandibulares.
A mandíbula é removida com um corte bilateral dos ramos, na altura dos terceiros molares. A maxila não é retirada.
A técnica submandibular causa menor prejuízo as estruturas faciais, mantendo a estética do cadáver.
Após as técnicas de incisão, é feita a limpeza das peças para serem usadas no procedimentos de comparação.
Usa-se sabão, água e escova no processo inicial, para a remoção do tecido biológico aderido. Depois ferve-se com água e detergente, ou com cristais de soda cáustica (NaOH) para degradação de remanescentes. Por último, os ossos são mergulhados em peróxido de hidrogênio (H2O2) por 24 horas para o branqueamento.
Técnica de identificação:
Este processo inclui minucioso exame da arcada durante a necrópsia, e confronto com dados de prontuários, moldes em gesso, fotografias e radiografias, para uma correta identificação.
Trata-se de um método comparativo dos registros odontológicos ante mortem com a perícia post mortem de enucleação dos arcos dentais.
O confronto é feito relacionando-se o números de dentes presentes e ausentes, restaurações, posicionamentos dos elementos, existência de anomalias e deformidades e, sendo possível, a análise das rugosidades palatinas (quando edentados).
Dessa forma, é importante que o cirurgião-dentista elabore um prontuário odontológico detalhado e atualizado, a fim de facilitar o procedimento pericial de comparação. A documentação odontológica é uma ferramenta essencial por oferecer características singulares do complexo estomatognático, auxiliando a perícia criminal de forma simples e eficiente na identificação de vítimas e suas famílias.
Referências Bibliográficas:
Ancillotti, R.V. e Prestes Jr, L.C.L.,. Manual de Técnicas em Necropsia Médico-Legal – Rio de Janeiro: Editora Rubio, 2009.
Luntz LL, Luntz P. Handbook for dental identification: techniques in forensic dentistry. 1 st ed. Philadelphia: Lippincott; 1973.
Vanrell, J.P. Conceitos e Noções Históricas em Odontologia Legal. Odontologia Legal e Antropologia Forense. 1 ª ed. Editora Guanabara Koogan S.A. 2002.
Nome: Flavia de O. Lembo Tonon
Graduação em Odontologia
Técnica de Necrópsia Cruz Vermelha - RJ, Brasil
Auxiliar de Necropsia Macrocursos Profissionalizantes – SP, Brasil
Tanatopraxia Thanatology Capacitação Profissional – SP, Brasil
Membro da ABRAF, membro da ABOL, membro da LacForense. UFRJ